De fato, uma das minhas buscas mais incansáveis se resumia a poetisas.
Não que não existam poetisas... Existem várias, porém, das poetisas as quais já li alguns textos resumem suas obras - na sua imensa maioria- a poemas existenciais, em particular, poemas de amor (com excessões de um ou dois poemas esparsos em obras inteiras, o que as torna reconhecidas são os poemas amorosos).
Isso tem uma explicação: as mulheres vivem mais intensamente a paixão e o amor, elas amamentam, carregam seus filhos no ventre, têm um coração e um instinto de amar mais intensamente... Por isso escrevem tão bem sobre tal "sentimento".
Os homens, porém, parecem escrever sobre tudo! Peguemos como exemplo o mestre Fernando Pessoa: escreveu sobre amor, melancolia, tecnologia, existência, metafísica, enfim, sobre a vida. E Vinicius de Moraes? Além de seus famosos poemas de amor ele possui uma obra inteira dedicada à críticas sociais.
Pois era essa a minha busca: uma Poetisa, que em sua obra predominantemente não falasse de amor.
E a encontro no dia de sua morte: Wislawa Szymborska! Uma polonesa, vencedora de um prêmio nobel de literatura, muito famosa em diversos países mas pouco conhecida aqui no Brasil. Um pouco da vida de Wislawa nesse link ( http://www.algumapoesia.com.br/poesia3/poesianet265.htm ).
Trecho retirado do site acima:
Trecho retirado do site acima:
Wislawa Szymborska
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O TERRORISTA, ELE OBSERVA
A bomba explodirá no bar às treze e vinte.
Agora são apenas treze e dezesseis.
Alguns terão ainda tempo para entrar;
alguns, para sair.
O terrorista já está do outro lado da rua.
A distância o protege de qualquer perigo.
E, bom, é como assistir a um filme.
Uma mulher de casaco amarelo, ela entra.
Um homem de óculos escuros, ele sai.
Jovens de jeans, eles conversam
Treze e dezessete e quatro segundos.
Aquele mais baixo, ele se salvou, sai de lambreta.
E aquele mais alto, ele entra.
Treze e dezessete e quarenta segundos.
A moça ali, ela tem uma fita verde no cabelo.
Mas o ônibus a encobre de repente.
Treze e dezoito.
A moça sumiu.
Era tola o bastante para entrar, ou não?
Saberemos quando retirarem os corpos. Treze e dezenove.
Ninguém mais parece entrar.
Um careca obeso, no entanto, está saindo.
Procura algo nos bolsos e
às treze e dezenove e cinqüenta segundos
ele volta para pegar suas malditas luvas. São treze e vinte.
O tempo, como se arrasta
É agora.
Ainda não.
Sim, agora.
A bomba, ela explode.
Tradução: Nelson Ascher
(Versão realizada a partir da versão inglesa de Adam Czerniawski e da
norte-americana de Magnus J. Krynski e Robert A. Maguire)
Trecho retirado do livro "Poemas", publicado pela primeira vez no Brasil recentemente pela Companhia das Letras
Recital da autora
musa, não ser um boxeador é literalmente não existir.
Nos recusaste a multidão ululante.
Uma dúzia de pessoas na sala,
já é hora de começar a fala.
metade veio porque está chovendo,
o resto é parente. Ó musa.
as mulheres adorariam desmaiar nesta noite outonal,
e vão, mas só ao assistir a uma luta colossal.
só lá as cenas dantescas.
e o ascenso aos céus. Ó musa.
Não ser boxeador, ser poeta,
estar condenado a duras florbelas,
por falta de musculatura mostrar ao mundo
a futura leitura escolar — na melhor das hipóteses —
Ó musa. Ó pégaso,
anjo equestre.
Na primeira fila um velhinho sonha docemente
que a finada esposa ressuscitou e
assa para ele um bolo com passas.
Com fogo, mas não alto, para o bolo não queimar,
começamos a leitura. Ó musa