terça-feira, 15 de junho de 2010

A mistura da brasilidade

O brasileiro é um personagem definido como o perfeito “herói imperfeito”, talvez por isso seja mais fácil defini-lo como o fanfarrão Zé Carioca do que com qualquer outro personagem da nossa literatura.

Nietzsche disse, certa vez, que a observação psicológica está entre os expedientes por meio dos quais podemos aliviar a carga de viver, Machado de Assis, concordava com suas palavras, seguindo, mais do que qualquer outro na literatura brasileira, essa filosofia em sua escrita. Por isso, os personagens machadianos podem ser considerados os que melhor definem a sociedade,não somente de sua época, mas de todas as épocas. A literatura machadiana mostrava nos perfis psicológicos um “quê” de universal, era pura e simplesmente de análise daquilo que o escritor via, refletido nas páginas de suas obras.

Talvez assim, possamos considerar injustiça constar somente um de seus personagens na lista dos que melhor definem o perfil de nossa sociedade, por exemplo, a cálida Capitu, a mulher perfeita ou a perfeita mulher? Tem em sua descrição um ar de mistério, uma sensação de cobiça estranha, algo tão comum na maioria das mulheres, mas que poucos autores souberam descrever com tamanha maestria.

O próprio Bentinho, estranho, ingênuo, submisso, é capaz de descrever tantas pessoas quanto imaginarmos ser possível; mais do que isso, a sua imagem e semelhança temos o próprio Brás Cubas de Machado, a encarnação profunda da solidão, prova sem escrúpulos de que a traição está enraizada na alma humana, e que os seres são capazes de arriscar quase tudo por uma paixão.

A verdade, a mais cruel das verdades, é que o ser humano pode adquirir muitas faces, personalidades, gênios; podemos escrever sobre qualquer tipo de ser antrópico, por mais improvável que seja, e certamente estaremos descrevendo alguma pessoa vivente deste mundo. Na realidade brasileira, não é diferente, encontramos nas ruas pessoas de tão distintas raças, cores, credos, que em termos de personalidade encontramos dificuldades em achar duas criaturas iguais.

Mesclando tudo isso, pode ser dito que qualquer Brás Cubas,Peri, Ana Terra e Capitu, descreve a personalidade de um entre tantos irmãos de nacionalidade que possuímos, ou alguém dirá que não tem em si algum traço de Macunaíma? Assim, juntando todos esses personagens em um liquidificador gigante, talvez um dia seja possível montar uma esquete do que Deus definiu como o que seria a brasilidade.

Portanto, a observação psicológica e o desejo de aliviar a carga de viver fazem os autores definirem em sua escrita a realidade que seus olhos percebem, assim, encontramos todos os tipos de personalidades refletidas na literatura, pois o ser humano pode adquirir muitas personalidades, então, somente se for possível juntar todas essas descrições encontraremos a personalidade de uma nação.

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