quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O trabalho de Clarice

Devia estar fazendo um trabalho sobre Clarice Lispector, de fato eu deveria, mas penso que Clarice ficaria mais satisfeita em me ver escrevendo do que rememorando toda a vida dela.
Não estou esnobando, acho Clarice fantástica, mas ela me dá um certo desespero, talvez seja por enxergar nela muito da minha própria vida, e não de um modo ficcional, ver suas obras, acho que todo mundo sente um pouco disso em Clarice Lispector, ela é tudo que sente ao escrever.
Mas, por mais estranho que pareça, identifiquei-me mais com a Clarice pessoa do que de fato com sua literatura, não que eu não goste de sua literatura, mas, ela para mim por vezes torna-se desrespeitosa, os personagens(ou 'as' personagens, que seria o correto mas eu não gosto de usar, acho que o artigo feminino nessa palavra não combina, por mais feminista que eu seja) sofrem, sofrem e sofrem e no final, nada tem uma explicação. Sei que essa é a intenção de Clarice, ser inovadora, escrever aquilo que sente da forma que lhe vier a cabeça, eu mesma, por vezes, faço isso; de fato essa técnica dá certo, a escrita sai bonita, filosófica mas na maior parte das vezes incompreensível e, volto a dizer, é desrespeitoso fazer isso com os personagens, usá-los como justificativa ou melhor, como objeto de nosso desespero, fazer deles o que quisermos tornando-os seres anamórficos, sem objetivos mas, pensantes, sempre pensantes; admiro Clarice por tal coragem, por não ter medo do que os personagens possam lhe trazer, pois os personagens sempre trazem coisas a nossa mente, coisas as vezes incontroláveis que dominam os músculos de nosso braço e nos fazem mover nossa mão até a caneta para tornar-lhes redigidas antes que se percam.
De fato é assim que eu entendo Clarice Lispector, e mais do que isso, entendo seus motivos para isso, toda a angústia de uma existência aparentemente banal, que, se você não acredita em algo maior, torna-se insuportável, tudo que Clarice faz é encontrar uma forma de extravasar todo esse sentimento, uma espécie de "terapia pela conversa" tal qual Josef Breuer (quem já leu "Quando Nietzsche chorou"sabe do que eu estou falando), só que em Clarice a conversa é consigo mesma (abusando do eufemismo assim mesmo) e não é uma conversa no sentido literal, mas expressa através da escrita, escrever é o tratamento de Clarice, o tratamento psicológico de Clarice, sem o qual, segundo ela mesma, seria impossível viver.
Agora acho que posso continuar a redigir meu trabalho, agora que dei uma de Clarice Lispector e botei tudo pra fora de uma só vez, talvez isso me faça compreendê-la melhor e então, compreender a mim mesma.
Nossa! Eu tava precisando mesmo disso! Ufa! Desabafei!

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